No rodeio o peão passa a
cavalo
O peão olha a prenda
A prenda olha o peão
Ele sabe que ela olha para
ele
Ela sabe que ele olha na
direção dela
Mas não tem certeza se ele
olha para ela
Os raios de sol batem no
chapéu
A aba faz sombra bem nos
olhos dele
Ela não sabe se olhos dele
estão nos olhos dela
No bolicho, o paysano
chega para o jogo do osso
Pede uma canha para lavar
a goela
A bolicheira lhe serve. Um
olhar
Ele sabe que ela olha os
olhos dele
Ela não sabe se o olhar
dele é para ela
O ambiente não é muito
claro
Os lampiões pendurados
altos nos caibros
Não alumiam o suficiente
A aba do chapéu encobre os
olhos dele
Ela não sabe se olhos dele
estão nos olhos dela
No rancho de chão batido
Um baile de gaita e
pandeiro
A prenda passa dançando
E bombeando o cantador
O cantador que floreia o
pala
Com um olhar traiçoeiro
Os olhos dele encontram os
negros olhos dela
À meia luz do candeeiro os
olhares se cruzam
Mas a aba do chapéu faz
uma sombra
Que tapa exatamente os
olhos dele
Ele sabe que a ela dança
sem tirar os olhos dele
Ela não sabe exatamente
Onde está, o olhar do cantador
Sim a aba do chapéu
atrapalha
Mas forma uma bela
composição
Na indumentária do peão
Assim, a mulher gaúcha
aprende a voltear esse empecilho
Pois, bem no fundo de sua
alma e coração
Ela sabe que mesmo com a
aba do chapéu fazendo sombra
Os olhos dele encontram os
olhos dela
Ela sabe que aquele olhar
Camuflado na sombra é para
ela
O coração bate mais forte
E passeia altiva pelo
rodeio
E serve a canha serena lá
no bolicho
E dança graciosa pelo
salão, uma volta inteira na sala
Na espera de passar novamente
em frente ao cantador
Olhos nos olhos por alguns
instantes
E mais uma longa e
demorada volta pela sala
Quem nunca segredou um
namoro assim?
Pealando um olhar
desgarrado
Um olhar que pode ser o
começo
De um namoro de verdade
Ou um namoro que aconteceu
Somente nos olhares
trocados
Um namoro que nasceu e
morreu no olhar
Um namoro em segredo
Talvez os namorados nunca tenham
se tocado
Talvez nem saibam o nome
um do outro
Mas namoraram, naquela
tarde, naquela noite
Naquele rodeio ou naquele
baile
Somente com o olhar, revelando
o desejo
Fazendo promessas... juras
de amor
Para um dia, um talvez,
bem distante...
Somente no olhar, por
debaixo da aba do chapéu.
Alva Gonçalves
Achei esse texto poético nos meus arquivos guardados, que já nem lembrava que havia escrito, nem tenho ideia de quando escrevi, mas quis postar.
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