28 de outubro de 2010

SER CHIQUE - SEMPRE

Recebi por e-mail, dizem que foi escrito pela GLÓRIA KALIL, não consegui confirmar, mas o texto é muito bom.
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Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje.
A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas.
Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro Italiano.
O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.
Chique mesmo é quem fala baixo. Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.
Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.
Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta.
Chique mesmo é parar na faixa e dar passagem ao pedestre e evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.
Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador. É lembrar do aniversário dos amigos.
Chique mesmo é não se exceder jamais! Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.
Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor. É "desligar o radar" quando estiverem sentados à mesa do restaurante, e prestar verdadeira atenção a sua companhia.
Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.
Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite!
Mas para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos retornar ao mesmo lugar, na mesma forma de energia.
Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não te faça bem.
Porque, no final das contas, chique mesmo é ser feliz.


  


19 de outubro de 2010

FELICIDADE REALISTA

Recebi por e-mail esse lindo texto da Martha Medeiros, e é pura verdade.


A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema, queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno.
Queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade.
Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum.
Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção.
Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando.
Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado.
E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.
Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a.
Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo.
Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.
Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

16 de outubro de 2010

A Inveja

(Transcrição da Fita “Desenvolvimento Comportamental” – autor ignorado)
O sentimento de inveja é uma das principais causas de infelicidade.Somente compreendendo a estrutura básica da inveja podemos reconhecer esse sentimento em nós, e aprendemos a lidar com ele em nossa vida e nosso comportamento.
O mecanismo intelectual básico responsável pelos ressentimentos é a comparação. Quando nos comparamos com os outros e nos sentimos, em algum aspecto, inferiores, estamos com inveja. Nem toda comparação leva à inveja, mas esta é sempre resultado de uma comparação.
É a vivência de um sentimento interior sob a forma de frustração, tristeza, mal estar, acanhamento, por nos sentirmos menores, menos, por não possuirmos o que o outro possui, por não sermos o que o outro é. É um desequilíbrio íntimo oriundo de um sentimento de inferioridade fruto da comparação.
Esse processo é muito sutil e encoberto. Escondemos de nós mesmos esse sentimento de inveja através de mecanismos de defesa que desde cedo nos foram sendo ensinados. Não temos consciência de que somos invejosos.
Um dos mecanismos mais comuns é o processo em que ao nos sentirmos menos que os outros, nós nos aumentamos, nos vangloriamos, nos enaltecemos para evitar o mal estar do desequilíbrio. Falamos exageradamente bem de nossas próprias coisas e ao mesmo tempo procuramos diminuir o outro através de críticas. Quando criticamos alguém, quando sentimos necessidade de falar mal de alguém, provavelmente estamos nos sentindo inferiores a ele. O arrogante é a pessoa que parte do pressuposto de que é inferior às outras pessoas.
O invejoso é incapaz de ver a luz, a alegria, o brilho, a luminosidade das outras pessoas. A inveja é própria daqueles que não encontraram respostas para a diversidade das pessoas e do mundo. Essa incapacidade de aceitar que as pessoas e as coisas sejam diferentes é uma rejeição da sua própria pessoa como sendo diferente das demais. A inveja é a auto-aversão por não sermos como os outros são.
Toda a nossa cultura é a cultura da comparação e nós aprendemos desde muito cedo a interiorizar esse processo em nosso comportamento. Como tudo está em relação, nós perdemos a capacidade de ver as coisas em si mesmas e só conseguimos entender as coisas e as pessoas em comparação umas com as outras.
Na família, por exemplo, sempre houve alguém que em um ou outro momento nos foi apontado como padrão ou a quem nós fomos apontados como modelo. É imensa a carga de comparação a que somos submetidos em toda a nossa vida. É uma força tão grande que poucas vezes nos damos conta dela.
Todo o sistema escolar é baseado na comparação. Primeiro lugar ... segundo lugar.... último lugar ... classes mais adiantadas... classes mais atrasadas ... notas ... avaliações...
Em outras instituições, na igreja, nas empresas, nos clubes, sempre nos foram dados padrões de modelos a seguir. Sempre fomos convidados a reforçar o caminho da comparação. A força da comparação é tão presente em nossas vidas que poderíamos chamá-la de sangue cultural.
Sem consciência desse processo dificilmente conseguiremos reconhecer, trabalhar e sair do sentimento de inveja. Provavelmente viveremos em estados depressivos constantes, com freqüentes sensações de impotência e inferioridade, em momentos de insatisfação, sem ao menos perceber em nós mesmos qualquer traço de inveja.
A sociedade é sempre comparativa em seus vários instrumentos de transmissão cultural. Nos filmes sempre existem nossos heróis, nossos padrões. Toda propaganda é baseada no processo comparativo entre nós e os modelos que nos são apresentados. A trama base da propaganda consiste em construir um quadro com qualidades de riqueza, poder, prestigio, inteligência, dinamismo, beleza, força, magnetismo pessoal, para que nos comparemos com os ambientes e pessoas apresentados e nos sintamos inferiores, magoados e diminuídos, e em seguida nos é indicada a solução para resolver aquele mal estar: a compra de algum produto que nos fará iguais aos padrões apresentados.
Existe um tipo de comparação com a qual sairemos do processo da inveja, é a autocomparação. Em termos sociais, psicológicos, financeiros, espirituais, estamos hoje melhores ou piores do que há algum tempo?
Há uma grande diferença entre a comparação com os outros e a comparação conosco mesmos. Na autocomparação fortalecemos o nosso ser, o nosso centro, o nosso ponto de equilíbrio. Passamos a nos dirigir de dentro em função do que realmente somos e não em função do que os outros esperam de nós. Nós passamos a ser o nosso único ponto de referência. Passamos a ser donos da nossa própria vida, pois quando nos comparamos com os outros eles são o nosso padrão, somos dirigidos de fora.
A auto-comparação leva a um fortalecimento interior, fortalecemos nossa identidade, reencontramos a nós mesmos. Passamos a ser o nosso próprio ponto de apoio. Na etero-comparação nós nos alienamos, perdemos a nossa identidade e passamos a estar na vida para realizar expectativas fora de nós.
O mundo é o mundo das diferenças. Cada pessoa tem o seu jeito, seu caminho, seu próprio nível, e sempre haverá alguém melhor do que nós em algum aspecto. Não estamos no mundo para sermos mais do que ninguém, mas para realizarmos o nosso próprio potencial, sendo cada vez melhores comparados conosco mesmos.
Só quando estamos centrados em nós mesmos e o mecanismo da autocomparação já faz parte do nosso comportamento, é que nos será possível comparar-nos às outras pessoas e aprender com elas, isso é admiração.
No fundo de cada sentimento de inveja existe o sentimento de admiração, mas este só pode desabrochar quando estamos centrados no nosso próprio tamanho, em postura de agradecimento pelo que já somos ou temos. Admiração pelo outro e tristeza conosco, é inveja.
Só quando formos padrão de nós mesmos reencontraremos a alegria de ser o que somos, de ter o que temos, de viver como vivemos. Somente o exercício da autocomparação nos levará à auto-aceitação, à realização do nosso próprio tamanho.
“Há cerca de 100 anos atrás um mestre idoso e coberto de honrarias estava à morte. Seus discípulos perguntaram:
- Mestre, você está com medo de morrer?
- Estou, respondeu ele. Estou com medo de me encontrar com o criador...
- Mas como? Disse um discípulo. Você que teve uma vida exemplar, assim como Moisés tirou-nos das trevas da ignorância...
- Você fez julgamentos justos como Salomão, disse outro discípulo.
O mestre respondeu:
- Quando eu me encontrar com Deus ele não vai me perguntar se fui Moisés ou Salomão, ele apenas vai me perguntar se eu fui eu mesmo.”

7 de outubro de 2010

A casa das sete mulheres




Revendo velhos arquivos e velhas escritas encontrei as anotações que fiz quando li o livro "ACasa das Sete Mulheres", da gaúcha Letícia Wierchowzki. Pois é quando leio algum livro tenho o hábito de anotar frases ou pequenos textos que goste, o livro todo é ótimo, como a minisérie também foi, mas longe de Garibaldi r Manoela ou Rosário e o caramuru, ou mesmo do amor de Bento Gonçalves pela sua Caetana, a parte que mais gostei era onde falava do romance da Mariana e do João Gutierrez, e abaixo segue o que anotei sobre isso:
Trechos de “A CASA DAS SETE MULHERES”

Na rua, o ar abafado a envolve, umedece sua pele. Ela pouco se importa. Contorna a casa vai pela sombra, quando sombra há, e segue para o galpão da charqueada. Sabe que agora os peões também descansam, aqui e acolá, sob a sombra das arvores, no quintal, no galpão dos animais, no curral. Essa não é a hora do trabalho nesse pampa assolado pelo verão. Há uma única pessoa na charqueada, e essa pessoa é João.
Mariana conheceu João faz pouco mais de um mês. João não está na guerra, não é caramuru nem farrapo, é peão de estância e bom violeiro. Foi Manuel quem o trouxe. E D. Ana precisava de braços para o trabalho, pois muitos peões foram para a campanha, estão lutando com os republicanos, estão morrendo por essas coxilhas a fora. João tem vinte e três anos e é muito moço pra morrer. Doma bem um cavalo, é bom de prosas, o pessoal da estância tomou-se de afeto por ele. À noite ele canta na beira do fogo. E é um homem bonito, alto de olhos castanhos e cabelos negros. Há alguma coisa de índio nos seus olhos oblíquos, e ele sorri como um gato. Esse sorriso foi a primeira coisa que Mariana viu. A segunda foi o toque morno daqueles dedos rudes. Sim, João logo a abraçou, assim que se cruzaram numa tarde perto da sanga, quando Mariana tinha ido levar Ana Joaquina a filhinha de Caetana, para tomar banho por lá. Ana Joaquina ficou brincando, quietinha, enquanto João e Mariana se abraçaram e se tocaram e se beijaram e venceram aquela fronteira misteriosa e escarpada. A menina não perguntou dos cabelos desgrenhados da prima, nem daquele rubor em seu rosto, nem reparou os botões mal arranjados do seu vestido um pouco sujo de terra.
Depois daquela tarde, viram-se amiúde. Na sanga, na charqueada, no capão. Mariana achou nos dias uma graça toda nova, e na solidão daquela estância o terreno perfeito para ver florescer seu amor. Combinavam seus encontros com a minúcia da paixão, esquivavam-se dos outros, mentiam, faziam render esses minutos roubados ao dia com uma ânsia semelhante à adoração. Mariana ganhou outro viço, encheu-se de alegrias, mas não contou desses amores a ninguém, nem à irmã nem à prima.
A porta do galpão range levemente quando ela entra. Os braços de João surgem das sombras e contornam sua cintura. O sol penetra pelas frestas da madeira, desenha arabescos no chão. Ela sorri, enquanto aquelas mãos famintas sobem para o seu colo, para o pescoço, para o rosto, e contornam sua boca, e desmancham as tranças do seu cabelo negro. Beijos salgados e urgentes.
Ai, Mariana, que não faço mais nada... solamente penso em usted. Minha Mariana.
A voz dele é um sussurro doce.
Faz calor, ele ri seu sorriso de gato, a pele morena de sol, os olhos cintilando aquele ardor de coisa jovem, de animal no cio. Mariana lambe o pescoço úmido, sente o gosto daquele homem com quem sonha toda noite, por quem espera e anseia e arde. Não existe mais nada lá fora, nem guerra, nem a casa, nem as tias, a mãe, as negras. Não existe nada e ela fará o que deseja, fará o que pede seu corpo tremulo. Seguirá aquele instinto que lhe nasce das entranhas, que nunca esteve em nenhum livro de oração nem na boca de nenhuma mulher de respeito, mas que vibra, pede, ordena. A vida corre em suas veias como um rio caudaloso que busca o mar.
Deitam no chão, há um cobertor velho estendido, ali se acomodam. As mãos de João são hábeis com os pequenos botões do vestido claro. A pele branca e perfumada dela vai surgindo como uma pétala, macia como uma pétala de flor mui formosa, e João se perde naquele caminho alvo, quase místico. Ele é feito de arestas, como ela é feita de maciez. Ambos buscam-se e desvendam-se e mergulham naquele oceano de toques e sensações. Lá fora, sob o sol do verão, o mundo dorme. (...)
No galpão da charqueada, sob o corpo de João , Mariana solta seu primeiro grito de mulher. Depois fecha os olhos. Desaguou no mar e está em paz.

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Um sopro de luz muito pálida alcançou seus olhos. No sonho, abria uma janela. A luz foi invadindo o sonho, aumentando, a janela transformou-se em porta, em fogueira. Abriu os olhos assustada. Sentiu o calor dele enroscado ao seu corpo, o braço forte sobre a sua cintura. O pelego envolvia a ambos como um abraço.
Mariana viu que amanhecia lá fora. Uma luz baça descia do céu muito claro. Pelas frestas da madeira, a luz entrava no galpão. Que horas seriam? O dia começava mui cedo na estância, e ela temeu ser vista ali, naquele pelego, enrolada ao abraço de João, de camisola, despenteada e pecadora. A mãe a mandaria ao convento, aquele lugar lúgubre, silencioso e morto.
- Ai meu Deus! – Deu um pulo. Ao seu lado João abriu os olhos confuso. – João já é dia! Preciso voltar para o meu quarto.
Ele sorriu ao vê-la, tão bonita, os cabelos negros soltos pelas costas, o rosto corado. Tinham se encontrado ali no meio da madrugada. Ela chegara enrolada no chalé, usando um poncho grosso sobre a camisola branca e delicada. Quando tocara em seu rosto, sentira-o frio e úmido do sereno. Um grande desejo de acalentá-la o envolvera. Passaram o resto daquela noite sob o pelego, mais felizes do que no céu.
- Vosmecê vai congelar aí, com essa roupa fina – disse ele, sorrindo – Devia por uma roupa.
Mariana obedeceu.
João também se vestiu. Colocou o pala por sobre o dorso nu, escondendo a musculatura bem-feita. O olho negro dele grudou-se nela. Ele sorriu. O sorriso felino e sensual.
- Vou embora, João. Después nos falamos. Minha mãe deve estar acordando e Manuela também.
- Usted devia contar tudo para ela. É sua irmã... Mais dia, menos dia, ela descobre mesmo. Usted quase nem dorme naquele quarto.
Mariana beijou-o. A boca úmida de saliva tinha um gosto de fruta, de coisa silvestre. Doía voltar para casa. Tomar o café com as tias, rezar, bordar, folhear um livro por horas, enquanto só fazia pensar nele, nos momentos que tinham repartido, nos deliciosos pecados cometidos.
- Ainda não, João. – Enrolou-se no xale. – Minha mãe anda mui estranha. Se souber de nós, se desconfiar, há de trancar-me num convento até que esta maldita guerra finde. Vosmecê não é exatamente o marido que ela sonha pra mim... Precisamos de tempo para contar a ela, quando estiver mais calma, mais serena. E eu não quero ir para um convento. Fui visitar Rosário, ela está definhando aos poucos. E vosmecê sabe que não gosto de rezas e ladainhas.
- Usted gosta é de mim. Dos meus carinhos.
Ele afagou-lhe os cabelos. Amava-a. Desde o primeiro momento, quando chegara na estância, trazido por Manuel, soubera que ali, naquela terra, havia algo esperando por ele. Soubera como num sonho.
Na primeira noite, tirara a viola do saco e fizera uma música de amor. Ficara horas sob as estrelas, olhando o pampa silencioso, e pensando no amor. Nunca tinha amado antes. Tinha conhecido umas chinas, uma donzela mui hermosa, uma castelhana viúva, mas tudo coisa passageira. Do amor mesmo nunca vira a sombra. No dia seguinte, temprano, tinha cruzado com Mariana na sanga. Não haveria de esquecer o ardor que lhe varara o peito, as carnes, a alma inteira. Depois daquele dia, ansiava estar com ela por todos os minutos.
Mariana saiu. Ele olhou-a da pequena janela. Logo Mariana estaria em seu quarto de moça rica, com as negras para servi-la e a mãe a lamuriar-se por isto ou aquilo. Para ele João Gutierrez, cabia a lida. O dia inteiro na faina, na labuta, trabalhando na estância, domando os potros. Sabia bem o seu lugar. Mas tinha se apaixonado pela moça rica, e viveria aquele amor, ali ou em qualquer outro pago. Sabia que D. Ana, que era boa e gentil com toda a peonada, se soubesse daqueles encontros, correria com ele da estância. Decerto mandavam meter-lhe uma bala nas guampas para silenciar o causo. Depois voltariam às missas, aos bordados. Ele sabia. Mariana era sobrinha do general Bento Gonçalves da Silva, o homem mais importante do Continente. E ele, ele não era nada. Filho de uma índia charrua com um uruguaio qualquer, criado naquele pampa para cima e para baixo, sem teto nem família. Era bom com a cavalhada, conhecia o chão com a sua palma, mas não era estancieiro nem fidalgo, nem cosa alguma que o valesse.
Acabou de vestir-se rapidamente. Um cusco começou a ganir ao longe. Na rua o ar frio despertou-o por completo. Ele foi para o galpão. Tomaria o mate com os outros, depois iria ver os cavalos. Pensava em Mariana, na sua pele alva, na luz dos seus olhos negros de longas pestanas. Amava-a. Se quisessem separá-los, faria qualquer coisa. Um desatino. Mariana era sua mulher. Deus tinha decidido aquilo. E ele acreditava em Deus.
O corpo dele é quente e vigoroso e bem talhado. O dorso moreno, iluminado pela luz fraca do lampião, cresce ante seus olhos, vai e vem, muito perto, até que o suor de ambos se misture, até que as peles se toquem e dividam o calor; depois afasta-se lentamente, naquela dança sensual e inquietante. O corpo de João entre suas pernas. Dentro dela.
Ela geme. O cobertor roça nas suas costas, excita-a. João em seu ouvido, com sua voz rouca falando coisas desconexas. João capturando sua boca para um beijo, aspirando o cheiro da sua pele, dizendo que a ama.
- Más que tudo, Mariana...Más que tudo.
Ela então fecha os olho. Entrega-se. É como uma explosão. Átomo por átomo, célula por célula, todo seu corpo se une nesse momento, alça-se, rebenta em mil fragmentos de luz. Agora é feita de puro algodão.
João em cima dela. Os olhos negros dele fitos nos seus. Ela se vê em suas retinas como num espelho. Ele descansa em seu peito, entre os seios, onde gosta de estar, onde vive o perfume dela, como ele diz.
A alvorada mal desdobra suas primeiras nuances. Ainda é quase noite, uma hora indefinida e mágica, e o mundo lá fora é puro silêncio.
- Meu irmão chegou hoje – fala baixinho.
João escorrega para o lado.
- Eu o vi.
Ela acarinha os cabelos negros e lisos, o rosto anguloso. Roça seus dedos na face sem barba. Ele é tão bonito...
- Pensei em falar com ele, João. Falar de nós.
João ri. Não um riso de alegria, mas de descrença. Um riso curto, talvez triste. As moças ricas não conhecem o mundo. Ele conhece o mundo. Antonio tem a alma voltada para a guerra. Uma guerra onde os negros serão libertos. Uma república igualitária. Mas Antonio não há de querer a irmã casada com um indiático, um guasca. Existem barreiras intransponíveis nesta vida.
- Usted vai perder tempo Mariana.
- Mas Antonio pode resolver tudo, falar com a mãe. Arranjar nosso casamento.
- E que cosa usted le dirá? Que nos deitamos juntos já faz tempo? Que me ama? Acha que isso será o suficiente? Usted disse que não contaria nada a ninguém por enquanto. Que tinha medo... – Beija a testa alta e bem desenhada – Pois preze esse medo, Mariana. Seu irmão não vai gostar de saber sobre nós.
Ela sente os olhos úmidos. Esta cansada de fugir à noite. De viver um amor de segredos. Ultimamente tem medo de morrer dormindo, longe de João. Tem medo de tudo.
- Mas o que faremos, João? Até quando ficaremos assim?
- Vou pensar em alguma coisa, Mariana. Le prometo. As cosas terão bom termo, por Dios. Mas hay que ter calma.
Deitam-se no cobertor. Lá fora as primeiras luzes de uma alvorada clareiam o mundo. Um galo canta ao longe. Mariana sente angústia em seu peito como um presságio.
- Tenho medo, João.
Ele a abraça.
-Não hay o que temer, mi amor... Vai dar tudo certo.

6 de outubro de 2010

Como lidar com a feiúra

Muito engraçado esse texto que foi retirado do Blog Gravataí Merengue http://www.interney.net/blogs/gravataimerengue/



Leitora feia, este texto é para você. A beleza, como sabemos, é relativa. A feiúra, porém, é absoluta, objetiva, líquida e certa. Por isso, claro, todo mundo sabe que você é feia - inclusive você. De cara, toda e qualquer dica nasce meio inócua.
Mas não custa nada AO MENOS amenizar um pouquinho a situação periclitante em que se encontra os traços físicos pouco privilegiados de seu rosto e, quiçá, de seu corpo não exatamente simétrico quanto à bilateralidade - ou de perfeita simetria radial.
Esclareço - e isso é fundamental - minha isenção completa quanto à prestação desta assessoria, pois seguramente sou muito mais feio do que todas vocês (com exceção de uma ou outra blogueira que eventualmente possa estar por aqui, pois aí também é demais). Tenho, portanto, certa bagagem quanto à arte de lidar com a feiúra.
Vamos lá:
Reclamar do Abuso de Photoshop
NENHUMA MULHER BONITA RECLAMA DO USO DE PHOTOSHOP. Vocês imaginam a Luana Piovanni com uma lupa verificando se tiraram celulite de uma fulana? Acham que a Natalie Portman faz isso? Ou a Megan Fox? É claro que não. Quem reclama do abuso de Photoshop é baranga. Gritaria desse tipo é coisa típica de tranqueira. Não passe esse recibo, sério. É vergonhoso. É o mesmo que fazer uma tatuagem na própria testa com a inscrição: "EU SOU O TRANCA-RUA".
Reclamar de Rankings de Beleza
Esses rankings são feitos para irritar, mesmo, e sempre vão gerar descontentamento. Faça como na entrega do Oscar, imagine que há uma câmera focalizada em você e a estatueta vai para outra pessoa. Não pague o mico de xingar. Por quê? Porque APENAS AS LEGÍTIMAS MOCRÉIAS questionam os critérios dessas listinhas. As bonitonas, gostosas e nervosamente deliciosas não estão nem aí, pois sabem que são foda e cagam e andam. Simples assim.
Rir de Tragédias com Bonitas
Sei que todos gostamos de ver gente se fodendo, daí o sucesso de coisas como o "Fail Blog". Mas as rascunhos de Google Maps do Inferno são seletivas quanto a essa variante do humor: só riem quando é uma bonitona que senta na graxa. A fulana deliciosa levou um tombo? Ela ri e espalha a notícia vibrando! A maravilhosinha levou um fora? Compra rojão! A outra se estrepou? Dá jantar! Ridículo.
Reclamar de "Feinhas"
Existem as barangas, as monstras, os canhões, os demônios, as entidades do ocultismo etc. E há as "feinhas", que muitas vezes são simpáticas e até se dão bem na balada. As escalafobéticas não perdoam esse tipo, pois acham que são "fisicamente paritárias". Então, o que fazem? RECLAMAM! Sim, reclamam! Como se fosse culpa do Cosmos! E aí ouvimos coisas do tipo "olha, onde já se viu, aquela ali com aquele cara, só pode ser alguma coisa assim, ou assaddo blábláblá". Em geral apela para alguma suposta façanha sexual da garota ou favores financeiros.
Venerar Bonitões Absurdamente
Todo homem fala de mulher, toda mulher fala de homem, bem como há homens que falam de homens e mulheres que falam de mulheres. Disso sabemos todos. Mas quando a garota NÃO PÁRA UM MÍSERO SEGUNDO DE FALAR DE HOMENS BONITÕES, pode apostar, é feia. E não qualquer feia, mas aquelas que, se o caboclo olha bem rapidamente, até congela a musculatura do rosto. È um comportamento padrão.
Enfim
Claro que é possível amenizar a feiúra, e a melhor forma de se fazer isso consiste no tratamento desses sintomas. Diminuindo as bobagens paralelas, acreditem, a feia se torna mais simpática e, não que se torne imediatamente bonita, mas já fica relativamente suportável. É um avanço e tanto.
E nem venham me acusar de machismo ou coisa que o valha. Porque as feias são sempre, sempre, sempre, SEMPRE as primeiras a reclamar que os homens não dão valor à beleza interior, mas na hora de procurar alguém vão sempre atrás do bonitão. Portanto, sinceramente, não reclamem comigo.
Evamoquevamo!

5 de outubro de 2010

Joelho quebrado - A saga II

Na última vez que fui ao médico ele disse que já estava tudo bem, e que poderíamos marcar a cirurgia para retirar o parafuso, mas antes disso eu precisava passar pela avaliação do anestesista. Corre atrás daqui e dali consegui uma consulta com o anestesista para uns 10 dias depois, fiz os exames e passei avaliação, foi tudo ótimo. Saindo do consultório no dia 30 de setembro já passei no hospital para agendar a cirurgia e olha só que legal só tinha vaga para o dia 18/10... é mais 18 dias com esse parafuso no joelho e sem botar o pé no chão.
Não tinha outro jeito era só esperar. Já estava programando com que roupa e principalmente com que calçado iria ao casamento de uma amiga agora no dia 09, de muleta e tudo mas eu ia.
Hoje de manhã me ligam do hospital remarcando a cirurgia para o dia 08/10. Ai até que enfim :)
Pois então agora é só arrumar os pijamas para encarar o hospital de novo na sexta-feira, tomara que dessa vez eu não precise ficar 5 dias. Vai ser bom porque vai pegar o feriadão, assim é mais fácil para todos.
Estou ansiosa para passar por isso logo mas morro de medo da anestesia, agora é rezar e torcer para dar tudo certo.
:)

Novos rumos

Simplicidade de Mãe e novos rumos no blog

Queridos leitores, eu fiquei um bom tempo afastada do blog, com muitas ideias e assuntos para escrever, mas sem tempo. Em primeiro lugar, p...

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