O lugar ideal
Coisa de um mês atrás participei
de um programa de televisão 1que discutia qual seria o lugar dos sonhos, a
Pasárgada de cada um. Paris? Um chalé nas montanhas? Um loft no Village, em
Nova York? Vamos descer das tamancas. O melhor lugar do mundo é a casa da
gente, mesmo com aquela infiltração no banheiro.
A casa da
gente não precisa ser necessariamente uma casa. Pode ser um barco, como o que
foi adotado pela família Schürmann. Pode ser o apartamento da mãe, preferência nacional
dos recém divorciados. Pode até ser um trailer estacionado no deserto. O
importante é que caibam nossos filhos, nossa intimidade e nossa fantasia, que
merece seu espaço.
Ainda não
fui visitar a Casa Cor desse ano, mas pretendo. Independente de ser uma
exposição comercial, que gera negócios entre arquitetos, decoradores e
lojiostas, a CasaCor estimula os visitantes a verem suas casas não como
quartéis-generais feitos para dormir e dar plantão, mas como locais idílicos,
cenários de felicidade doméstica. É claro que não vamos colocar um computador
em cada aposento, não vamos comprar todos aqueles objetos de arte nem equipar
nossa cozinha com o melhor da tecnologia alemã, até porque nossa verba é
nacional. Não é essa a proposta. A CasaCor funciona como os desfiles de moda
das grandes grifes. Ninguém precisa usar o veatido transparente que foi
mostrado na passarela: o que se quer é apenas transmitir prazer e liberdade. É
inspirar uma sofisticação que cada um, na vida real, traduzirá do seu jeito.
Bastam uma
mesa, quatro cadeiras, um sofá, cama e armários para mobiliar uma casa. É
verdade. Mas é preciso um pouco de alma se quisermos esquentar o ambiente.
Livros, plantas, retratos, panos, tapetes, abajures, gravuras, velas, música,
janelas, almofadas. Sim. Alma se compra, e não sai tão caro.
Pasárgada é
uma casa que dê vontade de voltar ao fim de um dia estafante. Pasárgada é uma
casa silenciosa quando queremos meditar, barulhenta quando queremos receber os
amigos, uma casa que reconheça a nossa voz. Pasárgada é uma casa que respire,
que tenha cheiro de comida, cheiro de flor, cheiro de banho tomado. Pasárgada é
uma casa que o telefone não toque tanto, que Chet Baker toque muito. Pasárgada
é uma casa onde cada objeto tenha uma origem, onde nada seja gratuito.
Pasárgada pode ser em Roma ou São Sepé, num barco ou em terra firme, mas tem
que ter a cara da gente, tem que acolher nossos defeitos e virtudes. E ser
ainda melhor que a CasaCor, menos perfeita, mas cheia de pó e história.
Setembro 1998.
Extraído do Livro “Trem Bala” de Martha Medeiros
Nenhum comentário:
Postar um comentário